A imagem oficial da Serva de Deus Benigna
A imagem da futura Beata Benigna Cardoso da Silva foi elaborada utilizando recursos científicos e tecnológicos disponíveis a fim de melhor aproximar a fisionomia facial e anatomia corporal aos traços físicos da Serva de Deus e de seus familiares cujos retratos impressos nos foram gentilmente oferecidos pelo fato de não dispormos de uma fotografia ou pintura que represente especificamente Benigna quando em vida.
Pensada levando em conta aspectos da sua realidade histórica e geográfica, a imagem não tem apenas a intenção de oferecer um retrato de Benigna, mas, principalmente de oferecer um significado mistagógico para a sua representação.
Num primeiro plano está Benigna Cardoso representada aos treze anos. De cor morena clara, um metro e quarenta e um centímetros de estatura, cabelos e olhos castanhos claros, de anatomia geral magra, segundo os autos do inquérito policial procedido por ocasião de sua morte. Cabelos longos até o ombro e levemente caracolados nas pontas, segundo o relato de Dona Nair sobreira e das irmãs de criação Dona Irani Cisnando e Dona Terezinha Cisnando.
Está trajando um vestido vermelho de bolinhas brancas, a roupa que usava quando foi martirizada, segundo o relato de pessoas que com ela conviveram e que estiveram com ela na tarde do martírio e testemunharam o momento em que seu corpo foi levado do local do martírio para sua casa na tarde do dia 24 de outubro de 1941. Está calçando uma chinela de couro comum na sua época.
Na representação os olhos estão voltados para o horizonte, levemente para o alto e não para baixo. A mão esquerda no peito enquanto abraça um ramalhete contendo uma palma e três lírios abertos. A mão direita voltada para o alto enquanto o dedo indicador aponta para o céu.
Num segundo plano está o desenho do pote que, segundo a tradição oral, transmitida desde a época do martírio é o pote de Benigna conservado pelo Padre Cristiano Coelho na igreja, posteriormente marcado e guardado por famílias santanenses. Não foi posto em seus braços mas no chão; nem está representado numa posição de reter água mas de derramá-la. Também será possível observar – apenas na versão pintada – as flores de chanana que benigna gostava de contemplar e protegia para que ninguém arrancasse.
Num terceiro plano está a representação de uma mina de calcário laminado. Rocha predominante em toda a região do município de Santana do Cariri-CE. Faz referência ao lugar geográfico onde viveu a nossa mártir. E quer representar o imenso paredão de pedra onde havia uma nascente e uma pequena cacimba que retinha a água, e onde Benigna enchia o seu pote descendo três degraus, segundo o relato de Dona Nair Sobreira que muitas vezes a acompanhou nessa rotina diária. Ainda no terceiro plano será visto – apenas na versão pintada – a representação da grande arvore chamada “Ingazeiro” que havia diante do paredão de pedra, entre a cacimba e a beira do riacho. Esta árvore ainda está no local até hoje e foi recentemente, reconhecida por Dona Nair Sobreira. O restante do terceiro plano apresenta e a vegetação e a luz do sol de 4 horas da tarde, horário do martírio de Benigna Cardoso da Silva.
ESPIRITUALIDADE MISTAGOGICA DA IMAGEM
O olhar no horizonte e levemente elevado supõe a firmeza da fé e da esperança de Benigna que não se deixou levar pelos encantos e prazeres do mundo, atualizando na vida a expressão do salmo 25, 15, “Os meu olhos estão sempre no senhor, pois ele livra os meus pés da cilada.”, e do salmo 121,1-2 “Eu levanto os meus olhos para os montes: de onde virá o meu socorro? Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o céu e fez a terra”.
A mão esquerda repousa no peito para indicar a sua vida interior marcada pela caridade. O seu amor foi regado pela pureza e provado pelo martírio, por isso nesse mesmo braço foram colocados os lírios e a palma.
O lírio é símbolo de pureza e santidade. Fazem referência à vida ilibada que ela conservou por causa do Reino de Deus, obtendo no mesmo dia em que entregou sua santa alma a Deus o título de “Heroína da Castidade”, escrito pelo pároco ao lado do seu registro de batismo.
A palma é um símbolo bíblico do martírio colocado pelo livro do Apocalipse na mão dos que derramaram seu sangue como Cristo. Os que venceram a grande tribulação e cantam no céu a vitória de Jesus, o Cordeiro imolado e ressuscitado. (Ap 7,14-17)
O braço direito voltado para o alto e o indicador apontando para o céu fazem referência ao convite que a vida de Benigna e seu martírio nos fazem para elevarmos os nossos corações ao alto como diz o apóstolo Paulo: “procurai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Pensai nas coisas do alto e não nas da terra, pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus: quando Cristo, que é vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória.” (Col 3,1-4)
Dos tantos golpes que recebeu, segundo o laudo pericial feito no corpo da santa mártir, dois foram escolhidos para tornar visível o seu martírio na imagem. Um no pescoço por ter sido o principal. O outro no dedo anular da mão esquerda por ser este dedo o da aliança matrimonial. Este, foi escolhido para representar as núpcias eternas que a Virgem, Benigna Cardoso, contraiu com o Divino Esposo, o Senhor Jesus, pela aliança do sangue, resistindo até o fim para não manchar sua alma e apresentar-se pura diante do seu Senhor e Mestre a quem na vida ela amou e serviu com determinação.
O vestido vermelho com bolinhas brancas, indica a veste que, profeticamente, Benigna trajava por ocasião do seu martírio. O vermelho lembra o sangue e o branco a santidade de vida. Vestida com os sinais de suas heroicas virtudes ela ofereceu o seu exemplo, imitando a Cristo na vida e na morte, obedecendo à palavra de Deus que diz: “deveis vestir a armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau, e sair firmes de todo combate.” (Ef 6,13)
As sandálias fazem referência à simplicidade da vida e do coração de Benigna que não possuía qualquer vaidade. Chamam a atenção para a sua prontidão missionária de caminhar na direção de Deus e dos irmãos; seja quando ia à catequese, à Igreja, quando agia com caridade, ou quando contava histórias bíblicas às outras crianças.
O pote era o instrumento para buscar água. Como a Samaritana do evangelho ela buscava água para a sede. Pelo martírio, naquela tarde, ela encontrou a Cristo verdadeira saciedade. Acorrias ao poço numa tarde,/ Quando a água no pote então buscavas;/ Mais feliz que a Mulher de Samaria/ Com o Senhor ali mesmo te encontravas./ O teu vaso de argila não quebraste,/ Defendeste a pureza virginal./ Heroína, feliz, da castidade,/ Lírio branco, qual límpido cristal.(Rodrigo Rêmulo) Na representação, o pote está numa posição em que derrama água, para lembrar que, o que bebe da verdadeira água que é Cristo, não a retem, mas, trona-se como uma fonte: “quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna.” (Jo 4,14)
Por fim a representação da formação rochosa finaliza a mistagogia da imagem religiosa: foi sobre uma mina de calcário laminado que Benigna Cardoso sofreu o martírio banhando-a com o seu sangue, e oferecendo a vida sobre a rocha firme de sua fé.